A
televisão brasileira vive um momento assombroso. Faço referência principalmente
aos canais abertos. Nos finais de semana o telespectador se perde em meio a
tantos programas de auditório, alguns inclusive de forma peculiar apresenta um
casal que fica cercado de Ricardões e Outras, beijos na boca de quem nunca se
viu acontecem naturalmente nos programas estilo “Quero encontrar um namorado”.
É extremamente comum ver artistas, principalmente aqueles que estão sem um
grande contrato, participar de gincanas e brincadeiras para “divertir” o
telespectador, muitas vezes com roupas bem extravagantes e com câmeras
direcionadas as partes mais interessantes masculinamente falando.
E as
músicas? Letras e melodias interessantíssimas dominam as paradas musicais. Um
sertanejo universitário que às vezes adere à moda de muitos “funks” com letras
pejorativas. Veja bem, uma música que no meio de tantas mulheres presentes no
show diz “Alô cambada de biscate, vamos pra boate”, “Gatinha assanhada cê tá
querendo o que?”, “Perto de papai você é santinha, quando sogrão não tá você
perde a linha”, “Sou simples mas eu te garanto sei fazer o lererê lererê lererê
se eu te pegar você vai ver”, muito romântico isso.
Todavia,
tudo isso poderia existir sem problema algum, esses artistas tem talento e músicas
populares e que mal tem ouvir isso, vivemos em uma democracia, o problema é que
ela está tão democrática que acaba por se tornar uma forma de ditadura. Um
equilíbrio na balança cairia muito bem, pois nossos grandes compositores estão prestes
a se tornarem obras de museus e eles sequer chegaram à melhor idade.
Há de
se refletir: “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque
vende mais?” O que a mídia exibe são reflexos de que o povo realmente quer ver
e ouvir ou algo que lhes é imposto por interesses maiores? A mídia quem molda o
público ou ele decidiu de forma coletiva aderir espontaneamente a uma ditadura
democrática? É como dizer que o público adora ligar a televisão para assistir
um programa de esportes e se deparar com um “shoptime”. É a democracia, afinal,
o jogo é aberto e quem quiser vender tem espaço, pagando bem que mal tem, o
público assiste de livre e espontânea imposição.
E assim, sem muita escolha, todos
aprendem a conviver com isso, pois por onde você vai se vê cercado de mensagens
que fazem com que queira “Tchu Tchá”, de “Ai ai ai assim você mata o papai”,
entre outras. São nos carros de som, lojas, redes sociais, toques dos
celulares, rádios, televisões, enfim... “assim caminha nossa humanidade”. Enquanto
o povo ouve essas músicas muito “massa”, outros, com ouvidos e olhares mais
apurados, bolsos avantajados, são as minorias que freqüentam os shows de
compositores museus.